Outubro Rosa: a importância do diagnóstico precoce
Em meio à pandemia de Covid-19, mamografias caem quase pela metade no SUS
No mês que marca a campanha internacional de prevenção do câncer de mama, o cenário de diagnósticos da doença no Brasil enfrenta mais um desafio: a pandemia de Covid-19, que tem reduzido o número de mulheres que procuram o médico para realizarem os exames periódicos. Segundo o Ministério da Saúde, entre abril e julho de 2020, o total de mamografias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) caiu quase pela metade em comparação aos anos de 2018 e 2019.
Essa tendência de queda nos diagnósticos já vinha sendo observada nos últimos anos, mas isso não significa que a doença esteja menos incidente. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é o tipo mais incidente entre o público feminino quando desconsiderado o tumor de pele não melanoma. A doença também é a neoplasia com maior taxa de mortalidade entre mulheres e causou mais de 17.700 óbitos só em 2018.
No entanto, boa parte das mortes por câncer de mama podem ser evitadas quando o diagnóstico é feito no início – daí a importância de fazer o acompanhamento regular com o ginecologista, para realizar todos os exames preventivos periodicamente. “A campanha do Outubro Rosa é uma das mais importantes no mundo e tem o objetivo de informar a mulher sobre o papel do autoexame e da mamografia no diagnóstico precoce. O acesso à informação de qualidade, que a campanha busca compartilhar, é uma de nossas armas mais poderosas para prevenir e combater o câncer de mama”, ressalta a ginecologista e obstetra Juliane Lotufo, diretora técnica da Life Clínica Saúde&Vida, em Campinas.
Causas e fatores de risco
O câncer de mama acontece quando as células mamárias sofrem alterações em seu material genético e começam a se dividir e a crescer de forma desordenada. Elas também podem se espalhar para outras partes do corpo, em alguns casos. “Existem diversos subtipos de câncer de mama. Eles são classificados levando em conta sua localização, forma de crescimento e como se espalham. A mama é constituída de lobos e ductos, então o câncer pode ser lobular ou ductal, não invasivo ou invasivo. Nos casos invasivos, existem outras classificações, e para cada subtipo, uma abordagem terapêutica”, explica a ginecologista.
Sabe-se que a doença tem causas multifatoriais, que consideram desde características individuais até fatores externos, que podem exercer maior influência do que as próprias características genéticas. “Os hábitos e o estilo de vida são responsáveis por 80% a 90% dos cânceres, que também podem estar associados a causas internas, que variam de 10 a 20% dos casos e estão relacionadas à capacidade do organismo de se defender de agressões externas”, afirma. De acordo com a médica, apesar de o fator genético ter uma papel importante na formação de tumores, são raros os cânceres que se devem exclusivamente a características familiares.
Contudo, a idade parece aumentar os riscos. “O envelhecimento natural do ser humano traz mudanças que tornam as células mais vulneráveis ao processo cancerígeno. Além disso, mulheres mais velhas foram expostas por mais tempo a fatores de risco externos, o que explica o porquê do câncer de mama ser mais frequente acima dos 50 anos”, destaca Juliane. A especialista ainda ressalta que a atenção deve ser redobrada para mulheres com casos de câncer de mama em parentes de primeiro grau. Outros fatores de risco são obesidade, uso de álcool, tabagismo, primeira menstruação precoce, menopausa tardia, primeira gestação tardia ou nuliparidade (ausência de gestações), histórico prévio de câncer de mama e uso prolongado de estrogênio.
O papel do estilo de vida
A prevenção do câncer de mama começa com a adoção de hábitos de vida saudáveis, afinal, os fatores ambientais são os grandes determinantes para o surgimento da doença. “A alimentação saudável é essencial, pois por meio dela, conseguimos fazer a prevenção primária ou, até mesmo, diminuir as chances de recidiva do câncer. A dieta ideal é aquela com alimentos integrais, frutas, legumes e verduras. Reduzir ou eliminar a ingestão de açúcares e carboidratos simples também é indicado, bem como diminuir a ingestão de carne vermelha, dando preferência a peixes e frutos do mar. Isso porque diversos estudos epidemiológicos observacionais já demonstram que a ingesta aumentada de carne vermelha eleva o número de mortes por câncer e doenças cardiovasculares”, orienta a médica.
Associar uma alimentação equilibrada a uma rotina de exercícios físicos, eliminando ou reduzindo a ingestão de álcool, também são atitudes que podem reduzir consideravelmente a probabilidade de desenvolver qualquer tipo de câncer. “Além disso, o fumo também deve ser evitado, pois aumenta em 30% os riscos tanto para o câncer de mama quanto para os cânceres de pulmão, cabeça e pescoço, bexiga, rim e pâncreas”, alerta.
Prevenção que salva vidas
O autoexame da mama deve fazer parte da rotina da mulher, pois pode ser o primeiro passo para o diagnóstico precoce. “O objetivo do autoexame é que a mulher conheça sua mama e seja capaz de detectar alterações como nódulos, secreções nos mamilos, pele com retrações ou aspecto de casca de laranja e mudanças no formato do mamilo. O autoexame não substitui o diagnóstico, portanto, na presença desses sinais, deve-se procurar a orientação do médico”, explica Juliane. A médica ensina que o autoexame deve ser feito em pé, de frente para o espelho, observando o bico do seio e levantando os braços para checar se o movimento altera o contorno ou a superfície da mama. “Em seguida, recomenda-se deitar com o braço esquerdo atrás do pescoço e, com a mão direita, examinar a mama esquerda com movimentos circulares suaves, repetindo o procedimento do outro lado”, diz.
Em caso de algum sinal de alerta, é preciso procurar o médico para realizar exames que confirmem ou descartem o diagnóstico. “A mamografia é responsável por 80% dos diagnósticos, mas também podem ser indicados exames complementares, como a ecografia, ultrassom mamário, ressonância magnética, tomografia, cintilografia óssea e PET scans, além de biópsias, se necessário”, afirma. Ainda existem controvérsias sobre a periodicidade e a idade na qual o rastreamento deve ser feito, mas as últimas diretrizes da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) orientam que a mamografia seja feita anualmente, a partir dos 40 anos. “Mulheres com forte histórico familiar e mutações genéticas que aumentem o risco da doença devem começar o acompanhamento ainda mais cedo”, orienta Juliane.
Tratamento
Felizmente, o tratamento do câncer de mama têm ganhado diversos avanços nos últimos anos, representados principalmente pelas imunoterapias, que estimulam o sistema imunológico a destruir as células cancerígenas de forma eficaz e com menos efeitos colaterais. “O tipo de terapia adotado depende do estágio da doença e também das características de cada paciente, combinando abordagens sistêmicas e locais”, diz a ginecologista. Entre as abordagens locais, estão a cirurgia para retirada do tumor – acompanhada de reconstrução mamária – e radioterapia. Já as abordagens sistêmicas consistem na quimioterapia, hormonioterapia e imunoterapias (medicamentos biológicos).
As terapias biológicas se diferem das sintéticas pois são produzidas a partir de células vivas, com estruturas grandes e complexas que não podem ser copiadas de forma exata, como no exemplo dos medicamentos genéricos. “Os biológicos têm eficácia comprovada no aumento das chances de remissão do câncer e, por atuarem apenas nas células cancerígenas, não apresentam tantos efeitos adversos”, afirma a médica. De acordo com a especialista, esse tipo de tratamento é indicado em casos específicos e, devido a complexidade de seu processo de produção, podem ter custos elevados. No entanto, tem sido possível aumentar o acesso das pacientes a esse tipo de tratamento na rede pública com a chegada dos biossimilares, que não são cópias exatas dos biológicos, mas desempenham seu papel com a mesma eficácia e segurança dos medicamentos de referência.
Serviço: para saber mais sobre câncer de mama, acesse o site do Instituto Nacional de Câncer (INCA): www.inca.gov.br, ou da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama): www.femama.org.br.
Confira o Podcast com a Ginecologista, Dra. Juliane Lotufo, sobre o outubro rosa, prevenção e tratamentos.
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