Diabetes e quarentena: a importância da rotina equilibrada
Pesquisa do IDF mostra que 59,4% dos diabéticos entrevistados tiveram variações glicêmicas durante o período de isolamento
O Novembro Azul se popularizou como o mês de prevenção e combate ao câncer de próstata, mas o que muitos não sabem é que em novembro também acontece a campanha mundial de conscientização sobre uma doença cada vez mais incidente no Brasil: o diabetes. De acordo com dados da International Diabetes Federation (IDF), mais de 460 milhões de pessoas convivem com diabetes no mundo – dentre as quais estão 16 milhões de brasileiros. “A prevalência da doença diz muito sobre o estilo de vida da população: a alimentação cada vez menos natural e mais processada e o sedentarismo são fatores diretamente relacionados ao diabetes tipo 2”, destaca a nutricionista ortomolecular Claudia Luz, do Departamento de Inovação da Via Farma.
O diabetes tipo 2 está intimamente relacionado à obesidade, por isso, sua incidência costuma ser maior em países onde o excesso de peso é mais predominante. Sem o tratamento adequado e mudanças no estilo de vida, a doença pode trazer complicações graves, afetando olhos, rins, nervos, vasos sanguíneos e órgãos vitais, aumentando, ainda, o risco de infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Por isso, manter a atenção na qualidade da alimentação, seguir à risca o tratamento e manter o acompanhamento regular com o médico são medidas indispensáveis para todo diabético – principalmente quando considera-se o cenário da Covid-19. “O diabetes, principalmente descompensado, é um dos fatores de risco para complicações da Covid-19. Por isso, é importante que, mesmo em isolamento, a dieta saudável e a rotina de exercícios físicos sejam mantidos”, orienta Claudia.
Diabetes na pandemia
Uma pesquisa online realizada pela International Diabetes Fedaration, entre abril e maio de 2020, mostrou que 59,5% dos diabéticos entrevistados reduziram o nível de atividades físicas ao longo do período de isolamento social – um dado preocupante, já que o exercício tem papel fundamental no controle da doença. De acordo com o mesmo estudo, 59,4% dos participantes observaram variações glicêmicas nesse período e 38,4% adiaram ou cancelaram consultas médicas e exames durante a pandemia. “Embora os diabéticos sejam parte do grupo de risco para a Covid-19, o acompanhamento médico e nutricional não deve ser abandonado. Nesse momento, a telemedicina pode ser uma grande aliada para manter o tratamento e a orientação profissional sem precisar sair de casa”, orienta Claudia.
Outro ponto de atenção destacado pela pesquisa foi a alimentação, que interfere diretamente no tratamento do diabetes. Entre os entrevistados, 29,8% declararam ter aumentado a ingestão de alimentos durante a quarentena, enquanto 48% afirmaram estarem passando mais tempo em frente à televisão. “São hábitos que precisam ser identificados e corrigidos, não só porque o diabetes descontrolado aumenta os riscos de casos mais graves de Covid-19, mas também porque a glicemia elevada traz consequências para a saúde que podem ser irreversíveis. No entanto, quando o diabético se compromete a manter um tratamento combinado à dieta equilibrada e à prática regular de exercícios físicos, é possível ter mais qualidade de vida, com saúde e sem restrições alimentares radicais”, diz a nutricionista.
Principais tipos
O tipo mais prevalente de diabetes no Brasil é o 2, que representa cerca de 90% dos casos no país. “Diretamente ligada ao estilo de vida e ao sobrepeso, a doença surge quando o organismo não consegue aproveitar a insulina produzida ou não produz a quantia suficiente para modular a glicemia no sangue. É mais comum em adultos, mas também pode ocorrer em crianças e adolescentes”, explica a nutricionista.
Outra variação da doença é o tipo 1, que representa de 5 a 10% dos casos e ocorre quando o sistema imunológico “ataca” as células pancreáticas beta, responsáveis pela liberação de insulina. Assim, pouca ou nenhuma quantidade desse hormônio chega ao sangue, impedindo que a glicose presente na circulação seja usada como energia para as células. O resultado é o característico excesso de glicose no sangue. Normalmente, o diabetes tipo 1 é diagnosticado na infância ou adolescência, mas também pode ser diagnosticado na idade adulta.
Outra situação comum é a descoberta do diabetes durante a gravidez – o chamado diabetes gestacional. Entre as causas, está a interferência dos hormônios da gravidez na ação insulínica, bem como a incapacidade do organismo em produzir insulina extra para o feto. O quadro costuma se normalizar após o nascimento da criança, mas deve ser acompanhado de perto, pois pode trazer complicações para a mãe e para o bebê, aumentando os riscos na hora do parto. Além disso, mulheres com histórico de diabetes gestacional têm maior risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2 após o parto.
Tratamento e estilo de vida
As abordagens terapêuticas para o diabetes podem variar de acordo com a gravidade da doença, mas sempre são indicadas mudanças no estilo de vida, com um planejamento alimentar feito pelo nutricionista, atividades físicas e acompanhamento periódico com o endocrinologista, que poderá indicar medicamentos e/ou uso de insulina. “Quando falamos em alimentação do diabético, temos que prestar atenção na qualidade do carboidrato ingerido. Substituir carboidratos refinados, com alto índice glicêmico, por carboidratos integrais, ricos em fibras, já é um bom começo. Mas não é só o carboidrato que pode causar picos de glicemia no organismo. Alimentos ricos em lipídeos (gorduras), também tendem a elevar a glicemia horas após o consumo, causando o que chamamos de hiperglicemia tardia” alerta a especialista.
Outro elemento chave que deve ser considerado na rotina de quem tem diabetes – e também no dia a dia da população em geral – é a prática diária de exercícios físicos. “A atividade física atua como um tratamento quando falamos em diabetes tipo 2. Isso porque a contração muscular do exercício estimula a translocação de GLUT4 para a membrana, facilitando a absorção de glicose independentemente da presença de insulina. Assim, quando praticados regularmente, os exercícios ajudam na melhora da resistência à insulina”, pontua Claudia.
Além das mudanças na rotina, é possível contar com uma variedade de terapias, cada dia mais modernas, para controlar a doença. Indicados pelo médico endocrinologista, os medicamentos podem ser combinados para restabelecer o equilíbrio da glicemia e trazer mais qualidade de vida ao paciente. “Além disso, o mercado de medicamentos personalizados também têm trazido novidades no combate ao diabetes, com opções de origem natural. O extrato de Portulaca oleracea L, por exemplo, melhora a resistência à insulina por meio de três mecanismos de ação. Além de estimular a translocação de GLUT4 para a membrana, também promove a ativação de PPAR gama, modulando a sensibilidade à insulina. Outro mecanismo é a redução da absorção de glicose a nível intestinal”, explica Claudia.
Para controlar a doença, o essencial é contar com a orientação do médico, que poderá avaliar a aplicação de terapias sintéticas e naturais no combate ao diabetes. Além disso, um tratamento multidisciplinar, com o acompanhamento de diversos profissionais da saúde, é importante para um tratamento ainda mais completo, já que o diabetes influencia no funcionamento do organismo como um todo.